Texto
e pesquisa: Ronaldo Campos
Na
época da produção do terceiro número da Revista Pedagógica do IEMG, recebemos
com muita satisfação um exemplar de um jornal estudantil publicado no início
dos anos sessenta do século XX. A doação foi feita por Maria Vicente, ex-aluna
e irmã de nossa queridíssima e saudosa, Rosa Maria Ribeiro Vicente.
Antena
foi um jornal de estudantes publicado em 1961. Possuia uma linha editoral
bastante independente e buscava realizar a intermediação entre alunos e
diretores\professores das escolas envolvidas. O períodico tinha uma proposta
audaciosa ao propor um trabalho interestudantil
reunindo alunos de várias instituições, a saber: colégios de Aplicação,
Estadual, Municipal e Instituto de Educação. Foi um espaço para a discussão de
temas importantes. Contou com amplo apoio da sociedade e do comércio da capital
mineira visto a grande quantidade de anúncios apresentados logo na primeira
edição.
O jornal Antena foi uma proposta que
rompeu com o projeto de um jornal escolar tradicional ao não se restringir
apenas a uma instituição de ensino. Esta experiência pedagógica foi bastante
inovadora ao propor situações de ensino e de aprendizagem mais abrangentes que
iam além do conteúdo específico das disciplinas regulares. Assim, quando as
alunas saiam de sua escola para entender a escola do outro(a), tornava-se
possível conhecer e interagir com a cidade, com os seus habitantes e os
principais problemas. O que também possibilitou, de certa maneira, complementar
as atividades regulares que aconteciam no dia a dia escolar. Isto por que por meio de discussões, análise de textos diversos,
notícias, seção feminina, coluna de cinema, reflexões sobre a arte e ações das
quais os alunos daquela época participavam, sempre podemos encontrar tanto um
“olhar” para a sociedade e para os seus mecanismos como um outro “olhar”
centrado na discussão das relações entre eles, nos interesses e nas
necessidades de todos que participaram do jornal Antena.
De
acordo com a equipe responsável pela edição, o jornal Antena nasceu “da própria
ânsia de liberdade e sentimento de independência”. Sendo o resultado de um
longo processo que teve início no dia a dia das alunas: “nasci, como todos,
pequeno; fui jornal mural, depois mimeografado. Agora cresci, tornei-me
intercolegial. Nao serei mais, de agora em diante, o jornal “O pica pau”, a
seriedade de minha nova missão fez-me mudar de nome. Agora sou ‘Antena’.
Nesta
primeira edição, destacam-se três momentos. O primeiro é a reportagem de capa
sobre o IEMG intitulada “Instituto: um mundo em miniatura”. De acordo com o
texto, o Instituto de Educação, dirigido pelo professor José Mesquita de
Carvalho, possuia cerca de 4.500 alunos. A gestão da escola foi avaliada
naquela época como excelente pela unanimidade de docentes e discentes. De
acordo com a matéria, “à direção atual se deve o perfeito entrosamento entre
alunos e mestres [...].” Destacando como ponto alto da instituição a formação
de novas professoras. Em 1961, o IEMG tinha “17 turmas, sendo 7 do 1º ano e as
10 restantes igualmente entre o 2º e o 3º.” Sobre as alunas, o periódico nos
informa que “ as moças são responsáveis pela maioria das atividades do
estabelecimento, tais como: conferências, exposições, teatro e agora um
conjunto musical que muito promete.” Como um órgão independente, o jornal
Antena chama atenção para os problemas do IEMG: a má gestão da cantina, os
problemas da gráfica e o estado precário de alguns móveis de madeira. Esta
matéria é finalizada com uma entrevista dada pela aluna Juerma C. Brant
Ribeiro, presidente do Conselho de Estudantes do Instituto de Educação, onde,
ela explica como foi o processo eleitoral; a função, objetivos e; as suas
principais propostas para conduzir o Conselho.
A
leitura do primeiro número do jornal Antena também nos possibilita ter acesso
aos primeiro artigos de profissionais importantes do jornalismo e da crítica
literária brasileira. Na página 02, destaca-se um texto opinativo sobre o
problema fundiário no Brasil escrito pela jovem Sônia Maria Viegas. Um texto
corajoso e bem fundamentado em autores como Sérgio Buarque de Holanda e Caio
Prado Júnior.
Sônia Maria Viegas Andrade (1944-1989) anos mais
tarde vai se destacar como professora do Departamento de Filosofia da Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Autora do belo "A vereda trágica
do Grande Sertão: Veredas" (Edições Loyola, 1985), que recebeu o Prêmio
"Cidade de Belo Horizonte", da Prefeitura Municipal. Criou e dirigiu
o Núcleo d
e Filosofia, publicou artigos em diversos jornais
e revistas a capital mineira e brilhou nos cursos e sessões comentadas do
Savassi Cine Clube. Postumamente, foram publicados os livrosCinema comentado
(1990), Amor e criatividade (1994), Mito (1994).
Outro
destaque do jornal Antena é a coluna de cinema assinada pelo jovem estudante
Boris Feldman. De modo sintético e bem elaborado, ele destaca a produção dos
primeiros filmes dos irmão José Haroldo Perreira e Maurício Gomes Leite.
Muito
antes de cursar engenharia na Universidade Federal
de Minas Gerais e de escrever a sua primeira coluna sobre automóveis para a
sucursal mineira do jornal “Última Hora”. Provavelmente, este é um dos seus
primeiros textos publicados. Boris Feldman é formado em engenharia e
comunicação. Trabalhou como engenheiro na fábrica de motores “Metal Leve” por
vinte anos. Editou vários cadernos de automóveis em jornais diários. Comandou o caderno Vrum do
jornal Estado de Minas por aproximadamente 34 anos. Mais tarde produziu
o programa com o mesmo nome para a TV Alterosa\SBT transmitido em rede
nacional. Isto sem esquecer os inúmeros programas de rádio produzidos e
apresentados por ele.
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