segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Antena: um jornal independente e interestudantil

Texto e pesquisa: Ronaldo Campos
Na época da produção do terceiro número da Revista Pedagógica do IEMG, recebemos com muita satisfação um exemplar de um jornal estudantil publicado no início dos anos sessenta do século XX. A doação foi feita por Maria Vicente, ex-aluna e irmã de nossa queridíssima e saudosa, Rosa Maria Ribeiro Vicente.
Antena foi um jornal de estudantes publicado em 1961. Possuia uma linha editoral bastante independente e buscava realizar a intermediação entre alunos e diretores\professores das escolas envolvidas. O períodico tinha uma proposta audaciosa ao propor um trabalho interestudantil  reunindo alunos de várias instituições, a saber: colégios de Aplicação, Estadual, Municipal e Instituto de Educação. Foi um espaço para a discussão de temas importantes. Contou com amplo apoio da sociedade e do comércio da capital mineira visto a grande quantidade de anúncios apresentados logo na primeira edição.
O jornal Antena foi uma proposta que rompeu com o projeto de um jornal escolar tradicional ao não se restringir apenas a uma instituição de ensino. Esta experiência pedagógica foi bastante inovadora ao propor situações de ensino e de aprendizagem mais abrangentes que iam além do conteúdo específico das disciplinas regulares. Assim, quando as alunas saiam de sua escola para entender a escola do outro(a), tornava-se possível conhecer e interagir com a cidade, com os seus habitantes e os principais problemas. O que também possibilitou, de certa maneira, complementar as atividades regulares que aconteciam no dia a dia escolar. Isto por que por meio de discussões, análise de textos diversos, notícias, seção feminina, coluna de cinema, reflexões sobre a arte e ações das quais os alunos daquela época participavam, sempre podemos encontrar tanto um “olhar” para a sociedade e para os seus mecanismos como um outro “olhar” centrado na discussão das relações entre eles, nos interesses e nas necessidades de todos que participaram do jornal Antena.
De acordo com a equipe responsável pela edição, o jornal Antena nasceu “da própria ânsia de liberdade e sentimento de independência”. Sendo o resultado de um longo processo que teve início no dia a dia das alunas: “nasci, como todos, pequeno; fui jornal mural, depois mimeografado. Agora cresci, tornei-me intercolegial. Nao serei mais, de agora em diante, o jornal “O pica pau”, a seriedade de minha nova missão fez-me mudar de nome. Agora sou ‘Antena’.
Nesta primeira edição, destacam-se três momentos. O primeiro é a reportagem de capa sobre o IEMG intitulada “Instituto: um mundo em miniatura”. De acordo com o texto, o Instituto de Educação, dirigido pelo professor José Mesquita de Carvalho, possuia cerca de 4.500 alunos. A gestão da escola foi avaliada naquela época como excelente pela unanimidade de docentes e discentes. De acordo com a matéria, “à direção atual se deve o perfeito entrosamento entre alunos e mestres [...].” Destacando como ponto alto da instituição a formação de novas professoras. Em 1961, o IEMG tinha “17 turmas, sendo 7 do 1º ano e as 10 restantes igualmente entre o 2º e o 3º.” Sobre as alunas, o periódico nos informa que “ as moças são responsáveis pela maioria das atividades do estabelecimento, tais como: conferências, exposições, teatro e agora um conjunto musical que muito promete.” Como um órgão independente, o jornal Antena chama atenção para os problemas do IEMG: a má gestão da cantina, os problemas da gráfica e o estado precário de alguns móveis de madeira. Esta matéria é finalizada com uma entrevista dada pela aluna Juerma C. Brant Ribeiro, presidente do Conselho de Estudantes do Instituto de Educação, onde, ela explica como foi o processo eleitoral; a função, objetivos e; as suas principais propostas para conduzir o Conselho.
A leitura do primeiro número do jornal Antena também nos possibilita ter acesso aos primeiro artigos de profissionais importantes do jornalismo e da crítica literária brasileira. Na página 02, destaca-se um texto opinativo sobre o problema fundiário no Brasil escrito pela jovem Sônia Maria Viegas. Um texto corajoso e bem fundamentado em autores como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior.
Sônia Maria Viegas Andrade (1944-1989) anos mais tarde vai se destacar como professora do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Autora do belo "A vereda trágica do Grande Sertão: Veredas" (Edições Loyola, 1985), que recebeu o Prêmio "Cidade de Belo Horizonte", da Prefeitura Municipal. Criou e dirigiu o Núcleo d
e Filosofia, publicou artigos em diversos jornais e revistas a capital mineira e brilhou nos cursos e sessões comentadas do Savassi Cine Clube. Postumamente, foram publicados os livrosCinema comentado (1990), Amor e criatividade (1994), Mito (1994).
Outro destaque do jornal Antena é a coluna de cinema assinada pelo jovem estudante Boris Feldman. De modo sintético e bem elaborado, ele destaca a produção dos primeiros filmes dos irmão José Haroldo Perreira e Maurício Gomes Leite.

Muito antes de cursar engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais e de escrever a sua primeira coluna sobre automóveis para a sucursal mineira do jornal “Última Hora”. Provavelmente, este é um dos seus primeiros textos publicados. Boris Feldman é formado em engenharia e comunicação. Trabalhou como engenheiro na fábrica de motores “Metal Leve” por vinte anos. Editou vários cadernos de automóveis em jornais diários. Comandou o caderno Vrum do jornal Estado de Minas por aproximadamente 34 anos. Mais tarde produziu o programa com o mesmo nome para a TV Alterosa\SBT transmitido em rede nacional. Isto sem esquecer os inúmeros programas de rádio produzidos e apresentados por ele. 

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