domingo, 13 de outubro de 2019

A formatura das normalistas nos anos dourados do Instituto de Educação T





Texto e pesquisa Ronaldo Campos (Professor do Instituto de Educação, Mestre em Filosofia pela UFMG)





Todos os anos os alunos e alunas do terceiro ano do ensino médio são tomados por um sentimento de ansiedade muito grande. Afinal, é o ano de conclusão da educação básica. Um momento de decisão, onde cada um terá que escolher o seu caminho. As festas e as cerimônias de conclusão do ensino médio são muito mais do que meras comemorações, uma vez que marcam o fim de um ciclo e o começo de novos desafios. É uma espécie de ritual para o desenvolvimento do jovem-adulto. É o momento que o aluno concluinte do ensino médio percebe que terá que se preparar para as novas fases a vida adulta. Mas é o ano também do baile de de formatura no belíssimo salão do Mix Garden. Uma festa cheia de glamour e muita animação. Contudo, os mais velhos recordam com muita nostalgia os bailes de antigamente.
Em tempos passados, na cidade de Belo Horizonte, no Instituto de Educação de Minas Gerais (na antiga Escola Normal Modelo), as comemorações e festividades da formatura tinham início com a missa solene e era seguido da colação de grau e do baile de formatura reuniam onde se reuniam moças das famílias mais tradicionais e abastadas da capital e do estado. Estes momentos foram ricamente registrados pela imprensa da época. O jornal “Minas Gerais”, órgão oficial do nosso Estado, todos os anos realizava uma detalhada cobertura dos eventos referentes a formatura das normalistas da Escola Normal Modelo. Assim, todo o estado ficava ciente dos acontecimentos: a missa, a colação de grau e o baile de formatura.
Partindo de uma pesquisa realizada no setor de periódicos da Biblioteca Luis de Bessa (Praça da Liberdade, Belo Horizonte - MG) em jornais mineiros do início do século XX descobrimos um outro mundo, uma outra época. Embora o significado das formaturas permaneçam, a forma como elas eram realizadas era bem diferente. O relato que se segue foi retirado dos jornais Minas Gerais.
No final dos anos de 1930, a escola localizada na rua Pernambuco, 47 se chamava Escola Normal Modelo. Minas Gerais era governado por Benedito Valadares. Considerado pelos seus contemporâneos como “uma árvore frondosa que deu muitos frutos”. Foi indicado como interventor por Vargas, depois tornou-se governador do estado. Permaneceu quase doze anos no poder. Neste período contribuiu para forjar ícones da modernidade mineira, como por exemplo, o complexo da Pampulha,o  Minas Tênis Clube e o Grande Hotel de Araxá. No seu governo, a educação teve um grande destaque e a Escola Normal Modelo  desempenhou o papel de principal protagonista no processo de transformação de estrutura de ensino do estado. Isto explica o destaque dado pela imprensa e pelo governo a todas as cerimônias e festividades ligadas às normalistas.
Todas as festividades a partir da década de 1930 tinha início com a missa solene das formandas que era realizada na Igreja de São José. De acordo com os jornais da época, comparecia “o que de mais fino e seleto possuía a Sociedade Belo-horizontina.” A cerimônia religiosa era acompanhada por uma orquestra de professores que executava uma magnífica seleção de música sacra. Em 1933, de acordo com o jornal “Minas Gerais”, a missa foi finalizada por um belo sermão no púlpito do padre da matriz de Belo Horizonte, da igreja de São José, Álvaro Negromonte, que destacou os principais deveres da jovem educadora no meio social.  
Em seguida, dias depois da cerimônia religiosa era realizado no auditório da Escola Normal uma sessão solene para a entrega dos diplomas. O auditório da Escola Normal era o palco de todas as solenidades mais importantes. Segundo o jornal “Minas Gerais de 11 de dezembro de 1938, o auditório na colação de grau, ficava com a sua lotação esgotada. Era um evento importante não só para o Instituto de Educação mas também para o governo do estado. O que pode ser exemplificado pela própria composição da mesa no ano de 1938. Estavam presentes inúmeras autoridades. Como por exemplo, Cristiano Machado (Secretário de Educação de Minas Gerais), Eliseu Laborne (Diretor do Departamento de Educação do Estado), D. Antônio José dos Santos (bispo da cidade paulista de Assis), entre outros.
Transmitida pela rádio PRI-3, a sessão solene foi iniciada com a execução do Hino Nacional por uma orquestra sinfônica. O discurso da oradora, senhorita Filomena Mesquita Lara, destacou a importância do ensino que era ministrado e a dedicação de todos os professores. Também prestou homenagem ao paraninfo da turma, o doutor Cristiano Machado. O seu discurso terminava dizendo: “Que desça sobre vós em abundância – Pais e mestres queridos – a benção de Deus pelo bem que nos desejais, pelo bem que nos fizestes. E eu quisera encontrar neste momento frases bem expressivas, palavras que pudessem sintetizar meus sentimentos, Mestre querido – professor Firmino Costa, ao entregar-vos as despedidas, as saudades, os protestos de gratidão e de amizade das normalistas de 1938. Vossos preceitos, vossos conselhos de pai, de sábio e de Mestre, irão conosco; aí encontraremos as normas do dever e da honestidade. Partiremos, seguiremos mundo afora porém não vos esqueceremos! Quando quisermos personificar diante de nossos alunos de amanhã o homem de caráter o homem de honra, o homem de talento, o homem de bondade. Teremos sempre presente aos olhos de nossa imaginação a figura excelsa de Firmino Costa.  [...]
Queridas colegas de turma. Amanhã, cada uma de nós terá seguido seu destino diferente. Serão ditosas muitas! Mas a lembrança dos dias felizes vividos nesta casa de paz e amor – onde D. Maria José, nossa querida diretora foi para nós a mão carinhosa, a irmã dedicada, a amiga confidente que nunca esqueceremos – essa lembrança será um oásis delicioso onde descansaremos da luta e buscaremos o alento para prosseguir. Missão sublime, missão grandiosa, missão augusta a nossa! Invoquemos de contínuo a Deus para não desmerecermos nunca, do alto propósito em que estamos – trabalhar por um Brasil grande, forte e respeitado – dentro do amor de Deus!”
O discurso da oradora da turma de normalistas de 1938 demonstra a importância dos professores na sua formação profissional. Pois, ao longo da sua vida escolar, a normalista (o aluno\a aluna) teve o professor (a professora) como modelo de referência sobre como pensar e agir. No seu discurso, a senhorita Filomena Mesquita Lara, demonstra que naquela época as pessoas tinham uma enorme crença no poder transformador da sociedade. Destaca também a qualidade e a especificidade do ensino ministrado pela Escola Normal Modelo da capital mineira. Os professores dessa instituição rompiam com o que tradicionalmente era feito ao propor uma educação que ia além da reprodução imediata daquilo que estava nos livros. O processo de ensino-aprendizagem já privilegiava um certo diálogo entre teoria e prática. Além disso não era esquecida a sua dimensão ética. Pois, acreditava-se que o melhor ensino era aquele realizado através de exemplos visto que  não é viável ensinar alguma coisa que você não pratica em sua vida.
Nesta mesma cerimônia, o paraninfo Dr. Cristiano Machado disse: “Estas festividades de diplomação nos cursos profissionais são sempre um misto de transbordamento de alegria juvenil, de antecipação de saudades e já domínio de severa interrogações. Que satisfação maior podereis esperar na vida escolar do que a que vos proporciona este dia em que todas vós estais, em sublimação de vossos afetos, no reconhecimento pelos vossos mestres e na compreensão da bondade e inteligência que conquistastes! Vencestes uma grande e nobre etapa sobre a qual me permito também fixar ligeiras considerações, algumas delas ligadas a esta casa, velho solar renovado, cujo ambiente de majestade arquitetônica não contraria, mas anima e dá esplendor a vida que aqui se vive. Nele penetrastes apenas transposto o curso primário e ainda sob o calor materno que aqui vistes estendido no carinho e no zelo de vossos professores e de vossas professoras, que, como o primeiro, vos ensinaram a ser mestras [...]”.
Após a cerimônia solene de entrega dos diplomas, ocorreu, às 22 horas, no aristocrático e tradicional Automóvel Clube de Belo Horizonte, o baile que a diretoria da Escola Normal oferecia às normalistas da turma de 1933. O baile era animado por uma sofisticada orquestra e se prolongava até o início do dia seguinte.
Esta pesquisa pode ficar ainda mais rica quando nos voltamos para os registros fotográficos. Há em arquivos públicos e privados um tesouro inestimável que foi pouco estudado. A história da Escola Normal Modelo e do Instituto de Educação, em virtude do seu prestígio, foi amplamente registrada a partir de fotos deste a sua fundação. Tais imagens são verdadeira “máquinas do tempo”. Pois, registraram a moda, os costumes e as solenidades da época. Mas, este é o assunto para ser apresentado em um outro post.

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